Como Fragmentos de Memória

 


Imagens, memórias, fragmentos do que passou... não sei se é sonho ou se a realidade se alterou. Um universo paralelo... será que eu vivo neste ou naquele mundo? Fragmentos que chegam... meus heróis se foram, as pessoas que eu admirava, a maioria também... o que mais há para lutar?

Travo a luta diária de quem já não acredita. Mas levanta. Levanta e pratica, acorda e estuda... respira... de máscara, mas respira, transpira, inspira e sonha....

O que é real e o que passou do real? O que é viver nesse momento? Até pouco tempo atrás saberia responder... eu não tenho as respostas agora... se é que um dia tive...

Buda sabiamente falou que a resistência à mudança dói muito mais que a mudança em si, no entanto, ainda resisto... como se mesmo compreendendo o ensinamento do mestre, em minha mente tanto se perdeu que a dor psicológica chega a ter ares de física.

Lembro da infância, em como fui feliz apesar da escola... eu tinha o fim-de-semana, com amigos reais, o surfe, as matinês, os milhões de primos que moravam em outras cidades e estados, mas coloriram minha década de 80 inteirinha.... os filmes do Spielberg e do John Hughes, as bandas trabalhadas em vestimentas Animal Print, glitter, neon e cabelos imensos, as propagandas do cigarro Hollywood, os picolés da Yopa, jogos de Atari e Odissey,... os corpos naturais, sem nenhuma interveção cirúrgica.

Os anos 90 e as festinhas americanas (menina leva comida, meninos levam refrigerante)... dançar de rostinho colado ao som de 'The Time of my Life", ou alguma música da Gloria Stephan que bombava nas rádios, os bailes com passinhos, "Pump of the Jam".... pump pump pump it up!!!! O grunge, Eddie Vedder lindo de camisa de flanela. Kurt Cobain e sua banda fodástica, os milhares de shows que fui na Apoteose e no Maracanã.

Seguimos: a faculdade e a liberdade do primeiro emprego, o primeiro carro (que eu comprei com 19 anos trabalhando em loja meio-período), o morar sozinho já com 18, 19 anos (hoje em dia as pessoas não fazem mais isso).... passei fome sorrindo, contando moedinhas para a cerveja e o pastel bate-entope no Bar da Elvira, lá em São Domingos, de frente p Campus Unversitário da UFF.... era feliz e sabia.

O casamento, o divórcio, o crescimento profissional, as viagens.... tudo fazia sentido... a mudança de planos, a troca de carreira, a esterelidade... ainda assim, tudo fazia sentido. Mas, o que é fazer sentido?

Buda, novamenete ele, diz que a dor existe mas o sofrimento é opcional.Opcional de que forma? Medito! Você medita? Eu medito... Me seguro nas frases de Buda, de Osho, de Jung, de Ram Das, de Sri Aurobindo, e ainda assim... eu sofro... sofro pelas matas, pelas árvores, pelos animais mortos em incêndio, pela pandemia, pelos que passam fome, pelos que têm doença, pela política, pelo país, pelo mundo,... acima de tudo sofro pela morte recente do meu pai... mas levanto... todos os dias... ergo a cabeça do travaesseiro, a gata a lamber minha cara (sim, gato lambe a cara do dono amado, igual cachorro), a ronronar do meu lado, como se me desse bom dia.... levanto por causa da gata, levando tb porque um bando de pessoas que não conheço ao vivo mas assistem minhas aulas na internet se sentem motivadas pelo meu bom dia... acordo por esses estranhos... eles me salvo em tamanhos aspectos que nem sabem como!

Agora cito Stan Lee, com meu personagem favorito dos quadrinhos, o Homem-Aranha: "grandes poderes, grandes responsabilidades".... eu levanto consciente que escolhi um caminho de amor, que é o Yoga... esse caminho que me acolhe e me deixa acolher, que me acalenta e me deixa acalentar, e por isso, mesmo alma destroçada, consigo emanar todo o amor e a paz que lá no fundo reina, bem mais forte que o sofrimento. 

Buda tem razão, a dor existe mas não precisamos sofrer, Stan Lee tem razão, a gente tem uma grande responsabilidade ao existir. A minha gata também tem razão, é preciso estar grato e feliz ao acordar. 

Então os fragmentos se vão, e existe só o presente, o um dia de cada vez, o aqui e o agora. E isso é bom. O agora não tem ansiedades, o agora é o momento. È importante ter memórias, mas é necessário estar presente para criar novas. 

Namastê!

Comentários

  1. Que relato pungente e tão real! Tão bem escrito também! Vem lá do fundo da alma. Muitas pessoas vão se identificar, como eu. Mas, como você diz, "é importante ter memórias, mas é necessário estar presente para criar novas." Bola pra frente, sem perder a fé na fonte criadora, que é abundante e infinita. Um grande beijo.

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    1. Obrigada, Sylvia. Você como sempre muito participativa e querida. Beijo.

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